domingo, 10 de abril de 2011

Lírios

Posted by Peterson Mayrinck On 16:19

Não faz muitos dias que Lily, uma menina de Hong Kong, me disse que não deveríamos sentir saudade daquilo que vamos em breve encontrar, mas daquilo que, em breve, não mais poderemos encontrar. Halifax, agora que o inverno se foi  e a primavera chega a uma flor por vez, está prestes a ser um passado, enquanto Recife se torna cada vez mais uma assombrosa realidade. Mas não falo de assombro como uma qualidade ruim, mas como algo que parece ter demorado a chegar - ao ponto de, em menos de um mês, eu ter que voltar pra casa e isso me parecer tanto e tão pouco tempo.

Sei que já está na hora de pegar o vôo da Air Canada com destino a São Paulo, mas fica cada vez mais difícil dizer que a Nova Scotia não me deu mais uma identidade.

Que esse não seja um adeus, mas um até logo!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Imago

Posted by Peterson Mayrinck On 07:28

♫ Spring came with awakening, came with innocense and joy
Spring came with fascination and desire to deploy ♫ 

-- Imago


Três meses desde que cheguei em Halifax, Nova Scotia. Vivi muitas coisas aqui, talvez mais do que eu seja capaz de lembrar. Vi o inverno derrubar neve em nossas cabeças, cegar a visão do campo de futebol, desnudar as árvores. Vi o inverno ceder, mesmo que ainda resista bastante, às pressões da primavera. E agora vejo essa estação do ano forçar seu caminho, com dias cada vez mais longos e "quentes" - 9°C não exatamente o que eu chamaria de quente, mas depois de sobreviver a uma tempestade de neve e temperaturas como -15°C (sensação térmica de -25°C) qualquer coisa melhor que isso já é um verão.


Hoje, três meses depois da minha chegada à Halifax, é o último dia de aula. É curioso como o período universitário aqui é curto, mas ainda assim bastante produtivo (se levarmos em conta que eles têm três períodos por ano aqui, a produtividade aumenta ainda mais).


Abril será um mês de provas, apenas. Depois é só contar os minutos para voltar para casa - e aproveitar esses mesmos minutos para viver a paixão secreta de ser um Haligonian.






Mais um mês e estarei de volta.

segunda-feira, 28 de março de 2011

WTF?

Posted by Peterson Mayrinck On 05:22

Uma massa e um grupo de flocos de neve enormes e eston­teantes caindo pelo ar, remendos de branco contra o céu cinza-chumbo, neve que toca sua língua com frio, que beija o seu rosto com um toque hesitante antes de congelar você até a morte. Trinta centímetros de neve de algodão-doce, criando um mundo de conto de fadas, deixando tudo irreconhecível de tão lindo...
Lá no topo da atmosfera, cristais minúsculos e perfei­tos que se unem e formam uma peça diminuta de poeira, cada pedacinho de renda, um trabalho de arte fractal. E os cristais de neve se juntam em flocos quando caem, cobrindo Halifax em sua plenitude branca, centímetro por centímetro...

-- Neil Gaiman (levemente modificado)



A primavera já deveria ter chegado de verdade. Hoje nevou durante a noite, a cidade amanheceu vestida de branco. Eu poderia escrever mais, mas tenho aula agora sobre o Brasil!

domingo, 20 de março de 2011

Homesick

Posted by Peterson Mayrinck On 10:56

O inverno começa a esmorecer; a neve deixa de cair com a regularidade de semanas atrás e começa a ser cada vez mais rara - na verdade, se torna uma surpresa quando ainda aparece por aqui já no meio de março. As árvores, desnudas, parecem mortas, primas da vegetação da caatinga - o verde mais vivo que se vê por aqui é do campo de futebol e sua grama sintética. Tudo o mais é marrom ou de uma doentia cor mestiça, que não chega a ser amarela e tampouco da cor escura do solo.


O céu, por outro lado, já não mostra a característica marcante do inverno - a brancura, antes sempre presente, deu lugar a um azul claro que perdura por horas a fio. Mesmo com o "horário de verão" iniciado há uma semana, o sol reluta a descer do palco antes das 19h30: assim como nas regiões mais próximas à linha do Equador, o dia agora se estende por doze horas de luz, enquanto a noite ocupa o resto do tempo.


A hibernação do inverno cede lentamente seu lugar ao espreguiçar da primavera. As temperaturas já não são mais tão baixas - ao ponto de nos descuidarmos e, algumas vezes, andarmos sem as roupas adequadas para o frio que ainda persiste - e já se vê pessoas jogando futebol ou correndo na pista de cooper. O sol, antes apenas uma fonte de, às vezes, esparca luz, se torna um alívio ao trazer um pouco de calor aos corpos que se aventuram lá fora. Não há mais tempestades de neve, a preocupação agora é com a chuva.


Pouco a pouco você vê essas mudanças, ciclos tão ordinários que não causam impressão a quase ninguém - talvez apenas àqueles que, como eu, estão acostumados a viver em uma região onde as estações se resumem a "muito calor, sem chuva" e "um bocado de calor, com chuva, apesar de momentos 'mais frios' de vez em quando". O sol e o arco-íris da bandeira de Pernambuco, sempre presentes no horizonte, poderiam emprestar à Nova Scotia um pouco da vivacidade que marca a Nova Roma de bravos guerreiros.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Mesquita

Posted by Peterson Mayrinck On 13:04

Há algumas semanas atrás visitei uma sinagoga aqui em Halifax - coisa que me impressionou bastante, talvez por conta de tradições que se estendem por séculos ou pelo contato com uma fé diferente daquela a qual eu estava acostumado. Hoje, um dia com ventos que ultrapassaram 50 km/h, visitei uma mesquita. Apesar das características de ambas as religiões - judaísmo e islamismo - serem distintas, elas me provocaram o mesmo efeito.


Eu não sei se conseguiria relatar o que senti. A primeira sensação foi a de "não-pertencimento" àquele lugar, àquela celebração. As pessoas envolvidas na oração, em muito maior quantidade do que na sinagoga, seguiam o ritual em árabe - tentei emular seus movimentos, mas sem entender o que estava a tomar corpo naquele momento. Depois é que tive uma explicação satisfatória sobre os atos lá praticados - e digo, até agora, que foi um dos rituais de maior espiritualidade de que já participei.


Em dado momento, o iman (palavra que significa 'líder' e que não necessariamente está ligada ao contexto religioso) fez o que os católicos chamariam de sermão. E nesse momento ficou clara a ligação entre política e religião. Infelizmente eu não lembro as palavras exatas que o iman usou para proferir seu discurso, mas ele trouxe à tona o momento delicado em que algumas populações na África e Oriente Médio estão inseridas. Ele falou de duas notícias: uma boa, que seria a resolução da ONU por um cessar-fogo na Líbia; e uma má, que foi o assassinato de dezenas de pessoas no Iêmen durante um protesto. "Allah condena a injustiça" ele disse "e a injustiça não é com Allah, ou com outras pessoas, mas consigo mesmo, com a sua própria alma", complementou.


Quanto à ONU, o iman falou algo perspicaz. "Por que a ONU demorou tanto para tomar uma medida? Por quê? Por que colocar o petróleo, os interesses econômicos, acima das pessoas? São seres humanos que estão morrendo! Algo já deveria ter sido feito".


Não posso deixar de lado o papel relegado às mulheres. Tradicionalmente, elas não deveriam participar das orações na mesquita - mas isso mudou ao passar do tempo, e agora elas podem participar, mas separadas dos homens. Curioso é quando um pai leva sua filha pequena para a mesquita e ela tem que ficar longe dele, indo à procura dele de vez em quando com um olhar perdido e um véu marrom cobrindo seu cabelo, enquanto sua roupa de frio rosa chama menos atenção que os seus olhos.



sexta-feira, 4 de março de 2011

Mais um

Posted by Peterson Mayrinck On 17:05

Mais um mês passou. De fato, fevereiro, apesar de ser o menor mês do ano, foi bastante movimentado para mim. Agora já são dois meses aqui em Halifax; agora já começo a me preparar para as últimas provas e, enfim, voltar para a capital pernambucana - Recife fica ainda mais na minha cabeça nessa época de carnaval. E é por isso que eu e algumas brasileiras (eu sou o único brasileirO) vamos fazer a nossa própria festa. Nada muito especial ou espetacular - já temos a cultura brasileira, não precisamos de nada melhor que isso.


Para quem está no Brasil, um bom carnaval! Para quem está no Canadá, Portugal, França ou algum outro lugar onde a onda de frevo e samba ainda não chegou com tanta força, resta ter saudade e esperar um dia cantar... "Voltei, Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço!"

quarta-feira, 2 de março de 2011

Winter break

Posted by Peterson Mayrinck On 16:08

Às vésperar de completar mais um mês aqui, volto ao fromhalifax na tentativa de mostrar que ainda estou vivo.  Eu teria tantas coisas para contar aqui, mas hoje é mais um dia de perambular pelo Canadá a procura do que fazer (no caso, Gorsebrook aí vamos nós novamente!).


Semana passada foi o winter break, uma semana sem aulas em que se supõe que a) o aluno vai colocar suas matérias em dia; b) o aluno vai descansar; ou c) alguma mistura inusitada das duas coisas. O que eu fiz? Resposta C, claro. Talvez tenha sido uma das semanas mais interessantes aqui em Halifax, ao mesmo tempo em que tive que fazer um trabalho para ser entregue na última segunda-feira. Começou com um jantar em grupo com o International United + Fãs, passando pelo Natural History Museum (onde finalmente conheci Sue!), Opa! Greek Taverna, karaoke e finalmente uma festa na G-Lounge, um novo night club em Halifax - aliás, fui tão bem vestido que daria para ter ido a um casamento com aquela roupa.




Uma outra coisa que fiz em um dos dias foi ir ao waterfront, uma área da cidade onde fica o porto, o Maritime Museum e visão da costa de Dartmouth, a cidade vizinha a Halifax. Aliás, ainda não fui nessa cidade - não sei o que tem de interessante lá a não ser um shopping maior do que os daqui. Na verdade, dizem por aqui que a melhor coisa de Dartmouth é a visão que eles têm de Halifax.


Em um dos píers, tirei uma foto com Claire Cayrou. Provavelmente você que está lendo (ninguém?) já deve ter ouvido falar dela, então não é bem necessário que eu a apresente, não é?




Depois desse winter break, nada melhor que receber as notas de alguns dos seus trabalhos e provas, não é? Não tenho tanta certeza. Claro, não fui mal - a nota mais baixa que recebi até agora foi bastante satisfatória - mas não custava nada os professores esperarem mais uma semana até você pegar o ritmo de aula normalmente, não?

Não vim aqui para ficar de moleza. É sempre hora de fazer mais.